terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Polêmica?

Finlândia pensa em abandonar o ensino da letra cursiva

Na semana passada  os finlandeses ficaram sabendo pelos jornais e noticiários que o Ministério da Educação pensa em terminar com o ensino da letra cursiva nas escolas, ensinando apenas a letra de forma. Uma notícia que já era de se esperar num país onde a tecnologia é altamente utilizada e todas as crianças antes de se alfabetizarem já sabem mexer em computadores, tablets e telefones.
Mesmo assim, nós com mais de trinta anos, não deixamos de ficar surpresos pela notícia que mostra que o futuro tecnológico está muito mais perto do que imaginamos. Existem algumas escolas que incluíram o tablet para cada aluno, abolindo quase que praticamente o velho e bom caderno, assim como os cadernos de caligrafia. Outras desenvolvem seus trabalhos de pesquisa com a utilização de celulares inteligentes onde as crianças conectadas na net conseguem as respostas em tempo record pela famosa google, fotografam e já enviam para o e-mail do professor.
Ok, tudo isto já vimos por aqui, mas até agora eram experiências. Tenho certeza que algumas escolas particulares no Brasil também fazem experiências deste tipo. Mas quando uma coisa tão simples como o fim do ensino da letra cursiva, que aqui é chamada de “escrita bonita” está ameaçada de extinção por decreto, o choque foi inevitável. Levamos um tapa na cara que nos fez acordar. Realmente o tempo passa e a tecnologia toma conta.
Pelo que eu saiba, muitas escolas do Brasil também estão optando pela ênfase na letra de forma. E na verdade, quando a criança está ainda desennvolvendo as suas habilidades motoras, torna-se mais fácil reconher cada letra individualmente. No caso do aprendizado da letra cursiva, as crianças teriam ainda que desenvolver atividades motoras específicas para “desenhar” as letras e isto, segundo muitos educadores, hoje em dia seria somente uma perda de tempo.
Por enquanto, isto é uma sugestão de projeto e que se aceito entrará em vigor em 2016. Segundo o grupo que propôs a ideia, atualmente, jovens e crianças têm uma escrita muito mais ativa no computador e por este motivo, acredita-se que seja desnecessário perder tempo ensinando as crianças a escreverem com letra cursiva. A coordenadora do projeto Pirjo Sinko defende que é muito mais importante os professores se concentrarem na qualidade do texto e não em formas de escrever que já estão se tornando obsoletas.
As crianças aprenderiam a reconhecer as letras escritas de forma cursiva mas estariam desobrigadas da tarefa enfadonha de tentar reproduzir as suas curvas e especificidades. Seriam capazes de ler mas não de reproduzir.
De acordo com a pedagogia moderna, em grande parte inspirada no construtivismo de Piaget e responsável por muitas mudanças nas práticas escolares. O que importa é que o aluno descubra por si próprio os caminhos para a alfabetização e a escrita proficiente. Se Piaget estivesse vivo, talvez fosse o primeiro a aplaudir a proposta, já que possuia um pensamento de vanguarda.
Porém, a ideia de abandonar de vez a chamada letra emendada, não é unânime. Parte dos professores defende a importância do aprendizado também da letra cursiva como uma forma de trabalhar a coordenação motora e habilidades especifícas, da mesma forma que são desenvolvidas nas atividades de desenho e artesanato. Segundo estes, o processo constituí uma parte importante do desenvolvimento do aluno e a pratica da caligrafia é importante para tornar a escrita mais fluente
Por sua vez, o grupo que lançou a proposta defende que é desnecessário este tipo específico de aprendizagem uma vez que os alunos terão a oportunidade de treinar suas habilidades de coordenação motoras em outras disciplinas que fazem parte do currículo como as aulas de  desenho e pintura.
Para este grupo, a escola não pode se isolar em si mesma em técnicas ultrapassadas igorando o que faz parte da vida dos alunos e como eles se expressam. Hoje em dia se digita muito mais do que se escreve. Inclusive pessoas adultas em suas rotinas de trabalho utilizam cada vez menos o lápis e o papel, uma vez que podemos anotar nossos compromissos até nas agendas dos nossos telefones.
A escola poderia utilizar este tempo para trabalhar outras atividades com as crianças e possibilitar que seus conhecimentos já adquiridos sejam explorados de diversas formas. Estaríamos desta forma cortando repetições, onde a criança praticamente tem que se alfabetizar duas vezes.
Imaginem que daqui a alguns anos só os mais velhos saberão escrever com letra cursiva. Meus netos ficarão olhando com espanto quando eu escrever o nome deles com uma letra diferente. E o pior, provavelmente não irão conseguir entender!!! Os velhos terão uma língua secreta: “Não consigo ler vovó, você escreveu tudo junto, escreva organizado”!
Por enquanto o projeto está em discussão, vamos ver no que vai dar. Mais uma coisa é certa: Mudanças ainda virão e a pergunta é: Nós professores, estamos prontos para estas mudanças?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ano Novo!

Estamos em 2014 e teremos aqui no Emerge muitas novidades!
Hoje disponibilizo um pequeno texto que fiz ainda em 2013 a partir de um passeio que fizemos ao CCBB.
Espero que curtam!

ACONTECIMENTOS
- Oba!  Finalmente chegou o dia do passeio!
- Tia, cadê o ônibus?
- Ai, tá demorando muito...
- Chegou, chegou!O ônibus chegou!
“Rumamos para o Centro Cultural Banco do Brasil”. Objetivo: Exposição “Obsessão Infinita”. Um pouco de cultura e arte para os alunos das turmas 1302 e 1402. Chegamos ao CCBB, expectativas, surpresas, encantamento. Fomos recebidos por uma arte educadora que fez algumas perguntas e explicou o que iríamos ver e fazer.
Na primeira sala após uma conversa sobre a artista Yayoi Kusama os arte educadores propuseram que em duplas, as crianças escrevessem o que a forma geométrica círculo dizia para eles. A partir disso foi formada uma “rede” com barbante sustentando as palavras ditas. Amizade, carinho, universo, foram algumas das palavras com as quais as crianças expressaram tudo o que seria infinito para elas. Os alunos da 1302, lembraram que já havíamos feito uma atividade semelhante...
A turma 1302 iniciou a visita às salas com as obras de Kusama. O primeiro quadro, todo feito com bolinhas coloridas chamou a atenção deles, acharam bonito, diferente e enxergaram formas no emaranhado de bolinhas. Olharam com olhos de ver.
A ideia de fazer este relato surgiu a partir da visita à segunda sala. A sala dos quadros intitulados: “Redes Infinitas”.
A arte educadora sugeriu uma roda e que dessem as mãos aos colegas que estavam longe e tentassem alcançar com os pés tantos outros. Os comentários, permeados de risos, foram: “Nossa não consigo chegar até lá”; “Ai, vou cair!”; “Vai não, te seguro”. “Formamos uma escultura, uma rede humana...” Ao ouvir isso a arte educadora parabeniza-os pedindo que desmanchassem a obra que haviam acabado de fazer. Em meio às explicações sobre os quadros, rodeada de olhinhos curiosos, a arte educadora diz o que Kusama pensou ao idealizar os quadros:

- “Somos pequenos organismos que unidos formamos uma REDE, igual a que vocês fizeram agora”.
Então Marcelo me abraça e diz simplesmente: -"Ih tia igual a gente!”, fazendo uma conexão entre a escultura humana que haviam acabado de fazer e a atividade que fizemos na escola. Ou ainda me permito dizer, a nossa rede de conhecimentos e experiências vivenciadas todos os dias.
Quanto conhecimento essa simples afirmação encerra? Impossível de mensurar. Ver as crianças observando os quadros, fazendo perguntas, surpreendendo a arte educadora que os acompanhava, se inscrevendo no mundo de uma forma diferente. Realizando comparações, tomando para si a palavra dita, vivenciada, potencializada.
Visitávamos uma exposição de uma artista que apresenta um transtorno obsessivo compulsivo, que repete formas, e mora em uma clinica psiquiátrica! Loucura e arte caminhando juntas. E crianças totalmente desprovidas de preconceitos, descobrindo pessoas, formas, vida, sonhos, em obras nascidas de alucinações.
Questiono-me.

Não somos loucos obsessivos também quando investimos em estratégias de ação que transformem as experiências cotidianas em redes de significação?

Não somos loucos obsessivos também quando insistimos que todo conhecimento advindo da experiência nos potencializa, nos (auto-trans) forma, nos obriga, nos movimenta a pensar?
O que vivenciei no CCBB, extrapola qualquer teoria. Foi mais uma imprevisibilidade do cotidiano com a qual estamos sempre nos deparando. Foi um acontecimento vivido, prenhe de emoção que será sempre relembrado, sem limites, pois como nos diz Benjamim, “é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois...”.

Gisele Silva